Autor. Miguel Delibes
1ª Edição. Ano de 1957
Esta história tem um "sabor" de nostalgia e melancolia; saudades da
infância e do tempo que já passou, dos lugares e das pessoas que
marcaram nossas vidas, e saudades do que fomos um dia e já não somos
mais.
Daniel é um menino de onze anos filho de um casal humilde, que vive da
fabricação caseira de queijos numa pequena vila rural na Espanha
pós-guerra. A história transcorre durante a noite anterior à partida de
Daniel, contra sua vontade, para a cidade onde deve prosseguir os
estudos conforme os anseios do pai, que deseja que ele seja “alguém na
vida”.
O título do livro alude ao caminho da vida. Daniel passa a noite
acordado relembrando sua vida até o presente momento. Ele vive livre e
feliz na pequena vila, em contato com a natureza e com seus dois
melhores amigos e não entende por que isso deveria mudar. Para ele,
estudar na cidade não significa progresso.
Ele sente que seu lugar é ali, no vilarejo em que nasceu, onde o tempo
parece ter parado e onde todos se conhecem por apelidos. Daniel, “el
Mochuelo” (o coruja) forma um trio inseparável com os amigos Roque, “el
Moñigo” (o bosta) e Germán, “el Tiñoso”(que sofre de "tinha", infecção
provocada por fungos que causa perda de cabelo). Daniel lembra-se dos
momentos vividos ao lado dos amigos: das travessuras, dos castigos, das
competições para provar quem era o mais corajoso, o mais forte.
Seus pensamentos trazem à tona a descoberta do amor e da submissão que
ele nos impõe. A sensação de perder o controle sobre si mesmo: o rubor, a
gagueira, a palpitação acelerada, o suor frio e o “embrulho” no
estômago.
As lembranças de Daniel revelam indignação com algumas atitudes dos
adultos como o mau-humor do pai, que a princípio conversava com ele e
lhe contava histórias, mas que à medida que o filho crescia, foi se
distanciando por acreditar que o menino deveria amadurecer sozinho e
passou a ficar ensimesmado, preocupado apenas em economizar para dar uma
vida melhor ao filho. Daniel conclui que quando as pessoas viram
adultas e adquirem o direito de decidir, já não lhes resta opção; e as
crianças, que tem o ímpeto e a coragem para decidir, são obrigadas a
deixar que os adultos decidam por elas.
Daniel questiona a prepotência do professor que aplica castigos
humilhantes aos alunos; comove-se com a bondade do padre, a quem
considera um santo; revolta-se com as fofocas e mesquinharias das beatas
do vilarejo que se acham melhores que os outros, e diverte-se com a
companhia dos amigos.
Daniel admira Paco, pai de Roque. Paco é ferreiro, homem robusto e
simples, que criou o filho sozinho após a morte da esposa no parto.
Daniel enxerga nele as qualidades que considera principais no homem: a
força física e a valentia.
Ao lidar com a morte do amigo Germán, “el Tiñoso”, após um acidente,
Daniel perde a inocência e se dá conta da efemeridade da vida, de que é
apenas uma questão de tempo para que a morte chege a cada uma daquelas
pessoas e a ele próprio, e que a passagem do tempo apagaria todos os
vestígios da geração que ele conheceu.
Daniel não deseja se mudar para a cidade porque sabe que não está se
despedindo apenas das pessoas e do lugar, mas também da infância.*
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