Autor. Pierre Louys
Título original. Trois Filles De Leur Mère.
Tradução de João Costa
Janeiro de 1987
“Mas em Tal Mãe, Tais Filhas… tudo acontece como se a vida fosse só
teatro (e, sobretudo, vice-versa…), ideia esta bem reforçada pelo
narrador ao escrever: «Conto
coisas tal como se passaram.» De facto, porque exercem a mais antiga
profissão do mundo, a referida mãe e as suas filhas são, por natureza,
atrizes de primeira água: então
elas não representam, várias vezes por dia, um prazer que estão longe de sentir?
Quaisquer dúvidas possíveis são, aliás, dissipadas logo no capítulo
segundo, quando é feita a comparação entre as raparigas de teatro, que
frequentam o Conservatório para
aprenderem a exprimir ideias pobres numa forma rebuscada, e as raparigas
de bordel, cuja escola foi a da Vida, e que não possuem «nem o gosto
nem a ciência do vocabulário
cénico», preferindo a espontaneidade salutar das palavras justas, que brotam da boca como a água das fontes.
Uma questão que o desenrolar do romance traz ao espírito do leitor é a
de saber se a profissão de prostituta será, afinal, tão respeitável como
outra qualquer (Jean-Paul
Sartre garantiu, numa célebre peça, que sim…). As personagens de Pierre
Louÿs dão a mesma resposta e não ocultam o orgulho que sentem; a mãe
chega mesmo a dizer: «Ensinei-as a amar a profissão.»
Esta mãe zelosa chama-se Teresa, tem trinta e seis anos e está muito
longe de possuir um espírito romântico. A filha mais velha, Charlotte,
apesar dos seus vinte anos, continua
submissa: «Eu faço tudo o que me dizem.» A do meio é Mauricette, catorze
anos e meio muito vividos em forte concorrência com a mãe. Finalmente, a
mais nova, Lili, apesar
dos seus dez anos e das inevitáveis limitações fisiológicas, constitui o
orgulho da família, que nela vê a sua mais lídima representante