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11/05/2025

RAÍZES MUSICAIS DA TERRA DE MIRANDA ( Miranda do Douro, Mogadouro e Vimioso )

 

Autor. Mário Correia / Sons da Terra

Edições - Sons da Terra- Edições e produções Musicais, Ldª.

1ª edição. Fevereiro de 2001

Referência. Inclui um  CD

Mário Correia nasceu na Praia da Granja em 1952. É licenciado em Economia pela Universidade do Porto. Musicólogo e investigador (IELT), fundou e dirige o Centro de Música Tradicional Sons da Terra. Autor de uma vasta bibliografia, dedicou alguns livros ao concelho de Mogadouro.

 1. ORIGENS
A Música e os instrumentos musicais populares portugueses, tais como os conhecemos
hoje, são resultantes de um longo processo em que múltiplos contributos e influências
aconteceram.
Do período anterior à romanização da Península Ibérica, pouco sabemos sobre a música
e dança de Iberos e Celtas, e dos povos que chegavam do Mediterrâneo: Fenícios, Gregos e
Cartagineses, no 1º milénio antes de Cristo.
Estrabão, embora nunca tivesse estado na Península, dá-nos, com base em escritos
anteriores que leu e compilou, a seguinte notícia referente aos Lusitanos (Sasportes, 1970)1 :
"...mesmo bebendo, os homens põe-se a dançar, ora formando coros ao som da
flauta e da trombeta, ora saltando cada um per si, a ver quem salta mais alto e
mais graciosamente cai de joelhos. Na Bastetânia (povos do Sudeste) as
mulheres dançam também, misturadas com os homens, cada uma tendo o seu par
na frente, a quem de vez em quando dá a mão."
A Lusitânia era uma região cheia de contrastes. A fertilidade e a riqueza das suas
costas, celebrada por vários autores, e onde habitavam ricos mercadores e grandes
proprietários constrastava com a improdutividade e pobreza da sua zona interior, povoada por pastores e caçadores. A música devia ser um elemento festivo primordial nos actos da vida pública e privada dos ricos habitantes do costa, embora sejam escassas as referências em textos históricos (Cuesta, 1983)2 .
Diodoro de Sicília fala-nos de um tipo de dança muito rápida dançada pelos Lusitanos
em tempo de paz. Tinham ainda danças e cantos de guerra que faziam antes das batalhas.
Quando da morte de Viriato, os seus soldados fizeram danças guerreiras e cantaram os seus
feitos, o que segundo La Cuesta, nos revela a existência de canções épicas de que apenas
encontramos traços na tradição oral.
É lícito supor que, à semelhança do que acontece com outros povos pastoris, as flautas,
tambores e talvez as gaitas de foles já se tocassem, mas não podemos ir mais longe nas
suposições.
A romanização da Península, posterior às guerras com os Celtiberos e Lusitanos
(154/137 A.C.) respeitou as crenças e o culto dos povos conquistados, dando no entanto lugar ao sincretismo próprio da colonização romana nas suas Províncias. A iconografia mostra-nos diversos instrumentos musicais que pela sua utilização funcional podemos agrupar em instrumentos de culto, da guerra, do trabalho, de cenas mitológicas, de teatro e espectáculo e de dança (Fleischauer, 1964) .
3 - La Cuesta refere que as comunidades judaicas estavam já na Península no período
romano, embora sejam escassos e imprecisos os dados de que dispomos. Já é certa a sua
presença nos primeiros anos do sec.IV, em que o Concílio de Elvira (Granada) toma várias
disposições relativas às relações entre cristãos e judeus.(...) *

 1 SASPORTES, José - História da Dança em Portugal, Lisboa,1970.
2 CUESTA,Ismael Fernandes de la - História de la música española, 1.Desde los origenes
hasta el "Ars Nova", Madrid, 1983.
3 FLEISCHAUER, G.- Etrurien und Rom, Leipzig, 1964.

* Notas sobre a Música e os Instrumentos Musicais Populares Portugueses
(Conferência enviada à comissão organizadora das Jornadas de Música
Lusófona promovidas pelo Coro Polifónico de Almada, nas comemorações do 25º
Aniversário)
Domingos A.R.Morais
Membro do IELT (Instituto de Estudos de Literatura Tradicional) da Faculdade de Ciências Sociais e
Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Mais detalhes consultando " Microsoft World - Notassmipp