Autor. Jorge Lima Barreto.
1ª edição. Fevereiro de 1997
Podemos, por ordem cronológica e desde os finais da
década de 1960, alinhar algumas figuras relevantes da música portuguesa,
artistas com carreiras comprometidas no projecto da improvisação
contemporânea; todos foram de certa maneira polinstrumentistas (e.g.
sopro, corda, percussão, vocalismo; ou com inclinações electroacústicas,
concretistas e, recentemente, informáticas); auto-produtores e
engenheiros do seu próprio som; relacionaram improvisação musical com
interacções artísticas e tecnológicas.
Os mais importantes
improvisadores portugueses são aqueles que conheceram mais
internacionalizações, em interacções qualitativas e quantitativas e
participaram em realizações de decisão e intervenção originais como
compositores/intérpretes, mesmo em criações inéditas e consideradas pela
História da Música Contemporânea (e.g. Carlos Zíngaro, violino,
arranjo, electronics, computação, primus inter pares; Jorge Lima
Barreto, piano, teclados, electronics; Plexus; Anar Band; Carlos
Bexegas, flauta, electronics; Telectu; Miguel Azguime, percussão,
electronics, computação; Vitor Rua, guitarra, arranjo, computação,
electronics; Nuno Rebelo, guitarra, electronics; Rafael Toral, guitarra,
electronics, computação; e.a.)
Podemos levantar en passant
outras significativas figuras solísticas, grupais, incidências
organigramaticais e técnicas: (e.g. Sei Miguel, trompete, arranjo; Zé
Oliveira, traps; D.W. Art; António Duarte, electronics; Moeda Noise;
Miso Ensemble; Zé Ernesto Rodrigues, viola; Paulo Curado, sopros;
Rodrigo Amado, sopros; Luis Desirat, bateria; David Maranha,
heterofones; Osso Exótico; Vidya Ensemble; Bruno Pedroso, Marco Franco,
bateria; Manuel M. Mota, guitarra, fingerpicking; Rute Praça,
violoncelo; Vitriol; João Paulo, piano; Gonçalo Falcão, guitarra;
Kromlecs; Tozé Ferreira, Emilio Buchinho, P. Raposo, Carlos Santos, Nuno
Tudela, Vítor Joaquim, André Gonçalves, o projecto Granular, acções em
electronics, video, interacção, tempo real, live processing, computação
e/ou lap top; etc...).
Num caracter idiomático da música
popular portuguesa o guitarrista Carlos Paredes é facile princeps da
improvisação, à qual se dedicou generosamente.
Soslaiemos
algumas discursividades improvisadas por intérpretes classicistas (e.g.
João Pedro Oliveira, órgão; António Victorino D´Almeida, piano; Pedro
Carneiro, percussão, e.a.); devaneios de conspícua qualidade pop; ou
improvisadores parajazzísticos em interlúdios de improvisação total, do
solo ao pequeno conjunto, aquando declinaram momentaneamente a
ortodoxia do Jazz, i.e. os que viveram em profundidade a ousadia do
discurso sem restrições em situação de registo fonográfico ou em
concerto no âmbito da improvisação (e.g. os contrabaixistas Jean Saheb
Sarbib, Zé Eduardo, Carlos Barretto, Carlos Bica; os sopradores Rão
Kyao, Carlos Martins, Laurent Filipe; o pianista António Pinho Vargas; a
vocalista Maria João; os guitarristas José Peixoto, Paulo C. Martins;
os bateristas/ percussionistas Mário Barreiros, A. Salero, José
Salgueiro, e.a.).
Houve e há inúmeros textos avulsos sobre a
matéria em publicações periódicos, revistas, catálogos, livros;
esboça-se um círculo de editoras discográficas dedicadas à especialidade
e, organizaram-se festivais ou eventos de grande nível internacional,
exclusivamente dedicados à nova improvisação, os quais estimularam esta
liberdade estética dos músicos portugueses.
Não devemos
descuidar as acções interartísticas constantes do vademecum da
improvisação musical - esta seita sempre foi resgatada por outras artes
(e.g. dança, teatro, vídeoarte, performarte, cinema, instalação,
escultura, ambiências e outras funcionalizações por qualquer motivo
cultural; houve poliartistas arroláveis que apostaram como protagonistas
de música improvisada); consideremos aqui a categoria do "não-músico"
como um assumido estigma futurista (e.g. Ernesto de Sousa, Puzzle,
António Palolo, Constança Capdeville, L. Bragança Gil, Projecto
/Progestos, António Olaio, Pedro Tudela, José Eduardo da Rocha, Paulo
Eno, No Noise Reduction, João Paulo Feliciano, João Fiadeiro, René
Bertholo, Adriana Sá, e.a.). Alguns poetas e declamadores líricos e /ou
concretistas trabalharam em interacção coma improvisação musical; (e.g.
E.M. Melo e Castro, João Perry, Eugénio de Andrade, Artur Bual, Ana
Hatherly, e.a.).
De qualquer maneira está criado um círculo artístico de músicos e musicógrafos devotados à improvisação.