Autor. Virgílio P. Ramos
Edição de autor. Ano de 1955
Virgílio Pereira Ramos – insigne cientista e escritor
Já algum tempo que comecei a interessar-me por uma das figuras importantes com origens em Vale de Espinho, um dos filhos do Senhor Vital (Vital Pereira Ramos), que os mais velhos conheceram, chamado Virgílio Pereira Ramos. Embora não nascido na nossa aldeia, foi aqui que passou a sua infância, tendo depois voado para outras paragens para frequentar o liceu, universidade, especializações em diversas áreas, desde a agronomia, energia atómica, ciências tropicais, pesticidas e outras.
Pelas numerosas participações e bolsas que obteve ao longo da sua carreira, observa-se que, mesmo nos tempos do designado Estado Novo, Portugal incentivava os melhores a prosseguirem as suas investigações, pois, ao mesmo tempo que os interessados se realizavam ao nível pessoal, também, com o seu saber contribuíam para o bem das empresas e do país.
E Virgílio Pereira Ramos foi, de facto, um dos melhores do seu tempo, saídos da Faculdade de Agronomia de Lisboa.
Cedo percebeu que com a língua inglesa poderia ir muito mais longe nas suas investigações científicas, mas, como a curiosidade não tem limites, interessou-se também pela literatura inglesa, participando em vários seminários no prestigiado meio universitário de Oxford.
Era um autêntico guloso do saber, aliando a ciência universitária à concretização empresarial. E os seus interesses eram variados, tanto nos óleos vegetais, como nos pesticidas, na apuramento e melhoramento da produção do café e outros.
Foi responsável pela Estação Agronómica Nacional durante vários anos e ali desenvolveu a sua investigação no domínio da Química Tecnológica e dos Pesticidas.
Não admira que as empresas farmacêuticas, como a Sandoz, o tenham contratado como consultor técnico para os seus produtos. Também o actualmente designado Instituto Nacional de Investigação Agrária o foi escolher para dirigir o Laboratório de Fitofarmacologia, onde ocupou vários cargos de responsabilidade.
Virgílio Pereira Ramos representou Portugal em vários congressos internacionais e colóquios nas áreas da sua especialidade e em reuniões internacionais da FAO.
Como bom cidadão, interessou-se também pela política e no fim dos anos setenta aderiu à Aliança Democrática, entusiasmando-se pelos ideais de Sá Carneiro.
Este grande cientista e investigador tinha também o seu lado ternurento que se manifestou na sua obra poética. Deixou-nos vários livros, citando apenas alguns como «Pórtico» (1951), «Cantos, Encantos, Quebrantos» (1955), «Sentimento» (1957), «Terra Inventada» (1958), «Poemas Capitalistas» (1958), outros publicados após o seu falecimento. Colaborou ainda, com vários trabalhos literários, nos suplementos literários de algumas revistas e jornais diários em Lisboa e na província e obteve prémios e menções honrosas em concursos de poesia e de literatura. Foi ainda director do Jornal da Europa, juntamente com Urbano Tavares Rodrigues, que, ao fim de quatro números, foi impedido pela censura de ser continuada a sua publicação.
Nos seus poemas não esqueceu a aldeia de Vale de Espinho onde viveu a sua infância, tendo escrito este soneto que se transcreve e que tem por título :
É lindo para o sonho a minha aldeia
É lindo para o sonho a minha aldeia
Esplendendo os verdes lá da serra,
Lembra a graça sem brincos, que na terra
Divulga, sempre moça e nunca feia!
Quando ao crepúsculo, a seara já ondeia,
Na promessa das músicas que em si encerra,
As fontes vestem asas e o sonho erra
Colhendo, aqui e além, o pão da sua ceia!
A luz do sol sucumbe, a esfiapar-se…
E o povo volta ao lar, a repassar-se
Dos sinos e das sombras da oração
Ascende a ideia, como um luar bento,
E vertido ao imenso, o pensamento
Abarca a Deus, em nó do coração!