Autor. Orlando Neves
1ª Edição. Junho de 2004
( Escolhi cinquenta dessas trovas e sobre elas fiz a tentativa de mutação para o português moderno. São versões livres em que procuro respeitar, quanto possível, as rimas originais, a métrica ( não a acentuação ), o ritmo e certas palavras chave de cada verso ou estrofe, embora esteja ciente de que estas transposições e adaptações, inevitavelmente, perdem em desembaraço, frescura e mistério, ganhando, todavia, mais fácil compreensibilidade no nosso tempo. Para as cantigas que deixei de fora, haverá justificações: ou estão demasiado truncadas, perdendo-se o sentido final, ou são de tal modo localizadas na época que nos escapa o significado das verrinas ou, enfim, são desinteressantes no seu todo, sobretudo por repetitivas. ( ... ) *
*Breve extrato de « Breve Nota » a qual faz parte do texto inicial da obra e assinada por Orlando Neves.
As cantigas de escárnio e maldizer fazem parte do período literário chamado Trovadorismo, que em Portugal encontrou expressão entre os anos de 1189 (ou 1198?) e 1350, ou seja, durante o século XI. A principal característica dessas cantigas é a crítica ou sátira . O tom de irreverência é geral. Ridicularizam maus jograis, cavaleiros covardes, e mentirosos; trovadores contam seus casos amorosos; fala-se de mulheres, satirizam-se os ricos-homens decadentes. Apresentam grande interesse histórico, pois são verdadeiros relatos dos costumes e vícios, principalmente da corte, mas também dos próprios jograis e trovadores. Tematicamente, as mais de 450 cantigas de escárnio e maldizer que chegaram até nós.
Cantigas de Escárnio - nessa cantiga, se manifesta a crítica (sátira) indireta e com duplos sentidos a alguém. Escritas em linguagem popular onde são frequentes as palavras e expressões obcenas de duplo sentido, ou seja, através de ambigüidades, trocadilhos e jogos semânticos. Elas têm como objetivo satirizar alguém ou então comentar jocosamente alguma situação, através de um processo denominado pelos trovadores de equívoco.
Eis um trecho da cantiga de escárnio: uma mulher que se queixava de nunca ter merecido um cantar, o trovador responde com uma cantiga em que a ridiculariza por esse desejo. O texto está em português da época:
Ai dona fea! Foste-vos queixar
Porque nunca louv'em meu trobar (trovar)
Cantigas de Maldizer - esse tipo de cantiga, também traz criticas, ou seja sátiras mais diretas e agressivas, a linguagem por vezes é carregada de termos obscenos, porém não são acompanhadas de duplos sentidos. É normal que ocorra agressões verbais à pessoa que está sendo criticada, ou seja, satirizada, geralmente usa-se até mesmo palavrões para compor esse tipo de cantiga, onde se revela ou não o nome da pessoa que está sendo agredida verbalmente. Seus temas prediletos eram o adultério, amores interesseiros ou ilícitos (padres)
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