Autor. Jorge Jardim
Ano desta edição - 1976
Editorial Intervenção. Lisboa
Sinopse
“Só há perigo e se joga o drama, quando homens que vêm de longe (e
por isso se consideram mais civilizados) ateiam o fogo para desvendarem a
selva que desconhecem ou para se protegerem dos medos que os assaltam.
No reflectir nocturno dos olhos da gazela julgam adivinhar a proximidade
agressiva do leão. Fazem crepitar o lume, que não dominam, e depois
assustam-se quando a África Ihes responde com a força mágica que
desencadearam.
Então, até a terra arde.
Julgando tudo saberem, só por nada terem aprendido, esses homens sem cor
assistem impotentes à destruição que provocaram. Não acertam em
entender de que lado está o vento e tudo tentam explicar, desculpando-se
confusamente, para fugirem apressados do
braseiro.
Atrás deles deixam a terra queimada e abandonam as vítimas inocentes que a surpresa apanhou desprevenidas.
Essa grande queimada, feita fora do tempo, nada tem de africana mesmo
quando em África a ateiam. Dessa, até os sábios velhos do mato têm medo.
Essa queima as raízes, faz arder a terra e não permite que o capim
espontâneo volte a brotar.
Quem ali viveu intensamente longos anos, e ali deixou a alma presa ao
feitiço que inegavelmente existe, não pode esquecer a imagem dessa
grande queimada da descolonização que não foi mais do que fogo posto por
mãos ignorantes e criminosas. Mãos de gente que não pertencia à África.
Mas as dores tiveram de ser sofridas, sem culpa, pelos africanos de
todas as raças atingidas pela mais monstruosa traição que naquelas
terras se conheceu.”*
Da Introdução