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03/07/2024

AS PUPILLAS DO SR. REITOR Chronica da Aldeia

 Autor. Júlio Diniz

Ano em que foi publicada esta edição -1930  « Nova edição profusamente illustrada com um interessante prefácio de Albino Forjaz de Sampaio »

Júlio Dinis, pseudónimo de Joaquim Guilherme Gomes Coelho, nasceu em 1839 no Porto, onde cursou Medicina. Em 1862, diagnosticado com tuberculose, suspende o exercício da profissão e retira-se, durante vários anos, para Ovar e, mais tarde, para a Madeira. Descoberto o encanto da vida rural, mas nunca esquecendo o afã da cidade e a sua burguesia nascente, publica o seu primeiro romance em volume, As Pupilas do Senhor Reitor, em 1867, seguindo-se-lhe Uma Família Inglesa (ambos lançados previamente em folhetins, no Jornal do Porto) e A Morgadinha dos Canaviais, ambos em 1868. No ano seguinte conclui o seu quarto romance, Os Fidalgos da Casa Mourisca, cujas provas tipográficas já não acabará de rever. Marcando a transição entre romantismo e realismo, e influenciado pela leitura dos grandes autores ingleses, como Jane Austen ou Charles Dickens, Júlio Dinis cultiva na sua obra o tratamento cuidado de temas familiares e quotidianos, numa estrutura de desenvolvimento lento, mas de resolução engenhosa. Após uma longa batalha contra a doença, morre prematuramente, aos 31 anos, na cidade que o viu nascer, em 1871.



  Às mulheres, ao longo dos tempos, foram atribuídos papéis, funções e características que ainda hoje contribuem fortemente para definir e identificar mentalidades e modos de vida, seguindo um padrão social tradicional de distinção do feminino e do masculino. Neste trabalho de investigação e reflexão, através do olhar e da escrita de Júlio Dinis, procuramos identificar retratos de mulheres portuguesas da segunda metade do século XIX, num contexto rural e de elevado índice de analfabetismo. Em As Pupilas do Senhor Reitor, Júlio Dinis, um escritor politicamente e culturalmente comprometido com o seu tempo, isto é, com os ideais e os valores do liberalismo e da burguesia em ascensão, apresenta-nos uma aldeia, em plena Regeneração, com as suas contradições e expetativas. Numa sociedade em mudança, Júlio Dinis reflete sobre o amor e papel da mulher na sociedade e na família e defende a instrução e o trabalho como meios primordiais para obter a ascensão social e económica, sem ruturas sociais. Para além de Margarida, a protagonista, e apesar da ausência da mulher mãe, as mulheres são figuras centrais no romance dinisiano. Mas, o velho senhor reitor, clérigo liberal convicto, e o octogenário João Semana, o clínico que não adere facilmente às novidades da medicina moderna, são personagens ímpares e fundamentais à intriga e à vida daquela comunidade, pelos valores que defendem e pela sua ação junto dos pobres e dos órfãos. Nesta aldeia, dia após dia, homens e mulheres vão desempenhando papéis socialmente importantes e necessários ao equilíbrio social e à defesa dos interesses individuais e coletivos e alguns vão provocando a mudança que permite sonhar com um futuro diferente. Assim, sendo possível obter informação relevante para o estudo das sociedades através da literatura, em As Pupilas do Senhor Reitor, pretendo conhecer a realidade de algumas mulheres portuguesas da segunda metade do século XIX, numa sociedade em mudança, em que cada história de vida e cada olhar representam apenas uma parte de uma dada realidade social. 



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