Exemplar valorizado com dedicatórias.
José Lopes Bernardino, 74 anos, Aldeia Nova de São Bento (Serpa)
É licenciado em Engenharia Eletrotécnica pelo Instituto Superior Técnico (1968-1974). Exerceu toda a sua atividade profissional enquanto quadro dirigente da Portugal Telecom para o distrito de Beja, cidade onde reside. Foi vereador não executivo na Câmara Municipal de Beja (2005-2009) como independente. É caçador, dirigente da Federação Alentejana de Caçadores e da Confederação Nacional dos Caçadores Portugueses.
José Lopes Bernardino lançou, recentemente, o livro Scolopax rusticola – a ave e aspectos do seu ciclo de vida.
Como nos apresenta este seu livro?
Procurei contribuir para um melhor conhecimento da galinhola, no nosso país. O livro baseia-se em estudos publicados sobre a matéria, a nível nacional e internacional, e nas observações e registos de caráter estatístico próprios, decorrentes de anos de jornadas dedicadas à caça da ave.
Qual o fascínio que esta ave lhe suscita para lhe dedicar esta obra?
A galinhola voa 10 mil quilómetros para chegar ao Alentejo. O mistério que ela faz de si própria, nunca se fazendo ouvir, dando a ideia de nunca estar. A sua extraordinária fidelidade aos espaços de invernagem, altura que passa entre nós, necessitando para isso de percorrer, por vezes, mais de 10 000 quilómetros. A solidão em que viaja, para vencer tão duras distâncias. Por fim e por muito mais, a necessidade de, sobre ela, saber cada vez mais e de poder partilhar esse conhecimento com outros.
Sendo oriunda do norte da Europa, a galinhola migra no inverno para o sul do continente, como é o caso do Alentejo. Quais as condições que a ave encontra aqui para empreender uma viagem tão longa?
A contribuição energética de minhocas e artrópodes na dieta da galinhola é de cerca de 88 por cento e de 12 por cento, respetivamente, o que revela a importância das primeiras. Não existem estudos das populações de minhocas no nosso país, mas se a galinhola procura Portugal e o Alentejo para invernar, pelo menos desde as glaciações, há 10 000 anos, os recursos alimentares nas áreas selecionadas pela ave são-lhe suficientes. A análise dos conteúdos estomacais das aves abatidas confirma a presença frequente de minhocas.
Como classifica, em termos quantitativos, o efetivo que visita o Alentejo?
A ave ocorre dispersa no território, nas partes mais húmidas de áreas arborizadas com coberto arbustivo. Tem pouca expressão no distrito de Beja, sendo superior nos outros distritos da região, em particular, nas áreas de maior altitude relativa, como as serras que marcam o espaço alentejano. Os anos de maiores fluxos migratórios estão em geral aliados às mais baixas temperaturas na Europa e diminuem nos anos de chuva persistente e temperaturas tépidas. Estudos realizados deixam perceber que a caça em França, na migração, faz diminuir os efetivos que chegam à Península Ibérica.
Que medidas devem ser tomadas para que os caçadores portugueses possam continuar a usufruir da caça à galinhola?
A diminuição da capacidade de acolhimento da ave com as desmatações, os efeitos das alterações climáticas sobre as populações de minhocas e artrópodes, o crescimento da atividade cinegética sobre a ave, face à diminuição dos efetivos das outras espécies cinegéticas, e a extração cinegética exercida sobre o efetivo ibérico nos países do percurso migratório colocam a galinhola numa encruzilhada que parece exigir a intervenção comunitária, para que se possa garantir o livre acesso da ave aos territórios que elege para invernar e a devolução dos seus habitats. José Serrano*
*© Diário do Alentejo. 16 de março 2024
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