Bocage
Manuel Maria Barbosa du Bocage, o mais completo
poeta do nosso século XVIII, nasceu em Setúbal em 1765 e faleceu em
Lisboa em 1805. Aos 16 anos assentou praça na Infantaria de Setúbal, mas
em 1783 alista-se na Academia Real da Marinha. Em Lisboa, participa na
vida boémia e literária e começa a ganhar fama a sua veia de poeta
satírico. Em 1786 embarca para a Índia, chegando a ser promovido a
tenente; em 1789 aventura-se a ir a Macau e neste ano regressa a
Portugal. Em 1791 publica o primeiro volume de Rimas e integra-se na
Nova Arcádia (ou Academia de Belas Letras), onde recebe o nome de Elmano
Sadino. Mas Bocage, pela sua instabilidade e irreverência, não se
adaptou ao convencionalismo arcádico e abre conflitos com os seus
confrades. Em 1797 é acusado de "herético perigoso e dissoluto de
costumes"; e, como era conhecida a sua simpatia pela Revolução Francesa,
é preso e condenado pela Inquisição. Quando sai da reclusão,
conformista e gasto, vê-se obrigado a viver da escrita (sobretudo de
traduções). Recebeu o auxílio de alguns amigos mas acabará por morrer
doente e na miséria.
Se formalmente a poesia bocagiana ainda é neoclássica, se nalgum
vocabulário e nos processos de natureza alegórica ainda se sente a
herança clássica, concretamente a camoniana, pelo temperamento, por
grande parte dos temas (como o ciúme, a noite, a morte, o egotismo, a
liberdade, o amor - muitas vezes manifestado por uma expressão
erotizante) e pela insistência nalgumas imagens e verbos que denunciam
uma vivência limite, pode bem dizer-se que uma parte significativa da
produção poética de Bocage é já marcadamente pré-romântica, anunciando
assim a nova época que se aproxima. Apesar de a sua poesia ser
contraditória, irregular, e de os seus versos revelarem concessões
artisticamente duvidosas, Bocage é considerado, com justeza, um dos
maiores sonetistas portugueses.
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