Autor. Adriano Pacheco
“O fenómeno das migrações sempre foi o reflexo da falta de trabalho nas terras de residência, e foi isso que levou a que elevado número de beirões, a pé ou de burro se metessem a caminho e nos vastos campos do Ribatejo e do Alentejo – e mesmo da Extremadura espanhola – procurassem a sua subsistência.
Era gente simples, necessariamente submissa, que não vergava face ao mais duro dos trabalhos, não obstante os miseráveis quartéis em que pernoitavam e à por vezes desumana alimentação. Trabalhar era o verbo que conjugavam sem hesitações. Poupar, um ponto de ordem de que não abdicavam.
Dizia uma senhora que morreu recentemente com 94 anos, que ao temperarem a comida o faziam com um gesto rápido de maneira a que caísse pouco tempero.
E contam-me agora que ao começarem mais tarde a fazer o caminho de comboio, a fim de pouparem no bilhete iam a pé até à próxima estação, e se apeavam antes de última
Há quem afirme que sempre foram bem recebidos onde quer que chegassem. Mas não seria bem assim, pois quer fossem ratinhos, gaibéus ou caramelos, era mão-de-obra mais barata que inclusivamente não permitia aos locais avançar com algumas reivindicações. Aliás, referem-no José Saramago em “Levantar-se do chão” e Alves Redol em “Gaibéus”.”
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