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05/05/2024

CRÓNICAS DO MEU MUNDO LOUCO

 
Autor. Correia de Morais

Edição do Autor. 1973








Júlio Augusto Correia de Morais faleceu a 19 de Setembro de 1989. Duas actividades principais o ocuparam profissionalmente: a pintura e a escrita. Da escrita falam os quatro livros publicados (e outros tantos se mantêm inéditos): Crónicas da Costa do Sol (1969), Crónicas do Meu Mundo Louco (1973), O Meu Dono e Eu (1989) e O Céu Precisa de Gente (1990). Sarcástico até mais não, escalpelizando o mundo fútil que o rodeava, mormente no concelho de Cascais, onde viveu as últimas décadas da sua vida, esse livros constituem, ainda hoje, motivo de saborosas risadas – como as proporcionavam as crónicas que, durante anos, semanalmente assinou no jornal A Nossa Terra e, depois, n’O Dia.Industriou-se na pintura a espátula, numa altura em que esse género ainda não era nada corrente. Nos seus quadros retratava a serenidade que, na escrita, não havia. Dir-se-ia que nos seus recantos de floresta, com um fio de sol a resplandecer; nas suas plácidas marinhas bebidas no largo diálogo com o mar do Guincho; nas suas naturezas mortas, onde sempre vicejavam pétalas… era um outro Correia de Morais, a reclamar quietudes, a retratar o encanto daquilo que a Natureza nos permite contemplar…Quase 17 anos passados sobre a sua morte, reunidos quadros que andavam dispersos, Toni Muchaxo acolhe na sua Estalagem – onde Correia de Morais muitas tardes passava a escrever e a sonhar… – a última exposição do artista, correspondendo, assim, não apenas a um desejo da filha, Júlia Amélia, mas também – e sobretudo – aos pedidos de muitos dos que apreciaram a obra do artista e que dele gostavam de ter mais uma recordação.


Correia de Morais com a sua filha.













 
PERFIL DE UM ARTISTA


Por: José d’Encarnação (Arqueólogo e Professor da Universidade de Coimbra)
"Pintor, jornalista, poeta, escritor e colunista político de exaltado patriotismo e terrível irreverência, não deve perguntar-se o que é Correia de Morais, por sempre ser aquilo que quer ser e constantemente nos surpreender pela espantosa versatilidade. Nascido lá para as faldas do Marão em fidalgo morgadio, e tendo estudado em Vila Real e no Porto, parecia destinado a um futuro de lavrador transmontano, quando a sua inquietude e inconformismo o levaram a abandonar tudo, para se lançar numa aventura que ainda prossegue e o marca indelevelmente.
Arribado a Lisboa, e sem preparação para a luta pela sobrevivência, atravessou tempos difíceis, até que um anúncio de acaso o levou à decoração para filmes, onde teve a sorte de colaborar com Leitão de Barros e com o grande mestre Manoel Lima, que logo o descobriram como artista nato. Frequentou os mais importantes centros artísticos de Lisboa e trabalhou com os melhores cenógrafos da América Latina. Mas sempre indomável e inquieto, encontrado o seu destino isolou-se, e deu início à grande aventura das artes e das letras.
Realizou a primeira exposição nos salões da Aliance Française, e desde logo se tornou conhecido. Então, como que explodiu, e durante três anos pintou Portugal de norte a sul, expondo no Porto, Viana do Castelo, Coimbra, Guimarães, Évora, Beja e Santarém. Foi expor a Espanha, França, Itália e Inglaterra, e os seus quadros invadiram a Europa e transbordaram para a América do Norte, estando representado no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, nas principais galerias francesas e inglesas e em todas as grandes coleções de Portugal.
Regressado a Lisboa, criou a Galeria Artistas Reunidos, chamando a si todos os artistas desamparados da Grande Cidade, e dando-lhes companheiros ilustres e famosos, como Almada Negreiros, Teixeira Lopes, Besugo, Quintino Correia e tantos outros. E em breve a Artistas Reunidos ganhou fama e se transformou em tertúlia de artistas e intelectuais, atraindo a atenção da polícia política de Salazar, que viria a encerrá-la. Correia de Morais reagiu violentamente a tal prepotência e de um dia para outro surgiu como cronista social de espírito irreverente e cáustico, Publicou dois livros de crónicas impiedosas e conquistou o grande público. Mas para sempre regressar à pintura, pela necessidade de dar voz à sua alma transmontana e emprestar imagem à constante inquietação de espírito-sentimento.
Porque é incomum e diferente, Correia de Morais dificilmente caberá na estreiteza de uma ligeira anotação de perfil, já que como pintor recusou o tradicionalismo, fazendo-se mágico da espátula, pintando como só ele as suas maravilhosas árvores e forçando a natureza a um diálogo sentimento que se adivinha e quase se escuta, entretanto que, como escritor, nos manobra a seu talante, fazendo-nos rir ou chorar.
Artista e escritor versátil, temperamental, imprevisível e polémico, Correia de Morais é um dos personagens da nossa galeria íntima de fabulosos, tendo-nos conquistado a amizade de que somos capazes e muita, muita admiração pelo seu talento."
CORREIA DE MORAIS, faleceu em 19/10/1989 na Inglaterra.

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