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12/05/2024

CAÇADAS PORTUGUEZAS. Paizagens - Figuras do Campo

 





Autor. Zacharias D'Aça


Edição do ano de 1898

" Individualidade complexa, esta do caçador tem algo do soldado, do viajante, do aventureiro e do artista.
 De tudo isto parece-me que o leitor encontrará alguns reflexos e vislumbres nas paginas d'estas narrativas.  (...) Quadros,scenas, paizagens, marinhas, figuras - tudo é desenhado ou esboçado do natural, com excepção da Tragedia na caça, que me foi contada por testemunha presencial, que não figura no lance, e do Final d´uma caçada - uma tradição da minha familia.

   E agora, para terminar esta apresentação, se tu, leitor benevolo, sentires, ao ler estas histórias, não o que eu senti, quando as vivi, porque seria impossível, mas um pouco do prazer que ainda tive ao escrevel-as, dar-me-hei por satisfeito e pago do meu trabalho.
 

4 de junho de 1898

 Zacharias D' Aça *

 
* Extrato do prefácio sob o título " Duas Palavras" , respeitando a grafia original.

 

 


Zacarias D'Aça. 1839 -1908


"Entroncado, de bom aspecto, bigode forte e mosca, com seu colarinho engomado e gravata preta em laço, quase uma fita, Francisco Zacarias de Araújo da Costa Aça tinha um ar de bonomia, filho de um militar, Zacarias D’Aça foi um erudito, um caçador emérito, um escritor vernáculo e cavaqueador infatigável.

Profissionalmente, foi 2º oficial da Direcção Geral d’Instrução Pública; leccionou durante 14 anos no Colégio Luso-Brasileiro, foi sócio efectivo do Grémio Artístico e Académico, sócio de mérito da Academia Real de Belas Artes, exercendo com a maior competência o cargo de bibliotecário.
Dedicou-se a assuntos históricos, cinegéticos, à arte e investigação deixando vasta obra publicada, privou com Castilho, Herculano, de quem herdou qualidades literárias.

Prosador de finas e poderosas faculdades, teve singeleza e colorido, elegância e individualidade.

Para além de colaborador em esparsos periódicos da época Occidente, Tiro Civil, Tiro e Sport, A Caça, foi também fundador e director literário do primeiro periódico de caça que existiu nas nossas terras Jornal dos Caçadores, 1875. Também preparou e publicou obras onde o prazer da caça sempre teve lugar destacado, como sucedeu em 1883 com o Almanach dos Caçadores, que incluía preciosas informações e conselhos úteis. Em 1899 publica Caçadas Portuguesas. Figuras de campo, paisagens; e aqui quer na descrição de caçadas, de paisagens ou personagens, a sua pena esteve seguramente à altura de um Silva Porto. Em 1907 já bastante doente, e como se de um último fôlego de tratasse ainda publicou Lisboa Moderna onde trata de assuntos para além do prazer da caça, ainda assim pintando com toda a sua mestria uma boa meia dúzia de episódios de caça. E como se não bastasse por si só, a beleza no estilo, o apropriado da linguagem a graça na descrição, também figuram nas suas páginas os caçadores mais notáveis da época.

Pode ser-se um bom caçador no mato, bater-se a meia encosta com muito vagar, uma bandada de perdizes ou ler no chão rijo o rasto do arteiro e vigoroso javali que vai ferido, mas escrever com maior entusiasmo e singeleza que Zacarias D’Aça não é fácil, foi inegavelmente, o primeiro e ainda do melhor que se escreveu do género em Portugal. Estou seguro que ainda tem a seu lado a sua cadela predilecta a 'Jóia', a sua escopeta 'scott' e seus bons companheiros Bulhão Pato, Lopes Cabral, Carlos e Jaime Bramão, Dr. Avelar, Dr. Manuel Bento de Sousa (o famoso Dr. Minerva …) bem como o catraeiro Lourenço, o homem que os transportava para a outra banda em busca da elegante codorniz, da nédia lebre ou da esquiva narceja nesse juncal alagado da Trafaria com alcantis bordejados pelo Tejo.

Quem diria, o paraíso da caça que era a Trafaria meados do século XIX!
Um outro dos seus caçadeiros preferidos, eram essas encostas da Arruda revestidas de vinhedos que corria em busca de uma boa cintada de perdizes, por este lugares ainda ecoam estéreis tiros, deste ínclito caçador-escritor muito marcado pelo romantismo.

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