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18/05/2024

ÁFRICA ( aconteceu )


   


Autor. José Álvaro Lopes

Edição de Autor.2002.

Este livro está acompanhado de uma amável dedicatória do autor.




«Ao longo da costa oriental do continente africano estende-se um país - Moçambique - antiga Província Ultramarina portuguesa e hoje país independente. Aqui, existe uma cidade -Inhambane- a cuja baía as naus de Vasco da Gama aportaram em 1498 na viagem da descoberta do caminho marítimo para a índia. Era a primeira vez que um europeu era visto pelos indígenas da região que, ao contrário do que era suposto, se mostraram, não só pacíficos mas cooperantes com os homens da frota do grande capitão, o que lhes mereceu a designação de "Terra da boa Gente", que conservaram através dos tempos.
É uma cidade cujas características especiais a tornaram diferente de todos os outros aglomerados populacionais estabelecidos ao longo da extensa costa. Situa-se numa península formada por uma área de terreno entre o mar e uma baía, esta com cerca de 25 quilómetros de extensão a partir da barra. Quem ali chegava por terra, viajando ao longo da estrada que a liga à Capital, - ao tempo, Lourenço Marques - percorria uma pequena distância , tendo à sua esquerda a vista do panorama formado pelas águas azul-turquesa da baía, riscadas pelas linhas verticais dos troncos das palmeiras que a marginam e do lado oposto uma povoação de nome Maxixe. A primeira impressão que se sentia ao entrar na cidade era a de que nos encontrávamos num lugar aprazível e acolhedor. Esta sensação era-nos transmitida pelo aspecto de asseio e ar cuidado em que as ruas eram mantidas, limpas e alcatroadas e edifícios com aparência de terem recebido os benefícios de pintura recente. Era agradável ainda notar que as áreas relvadas e canteiros de flores mereciam os cuidados e atenção frequentes dos jardineiros encarregados da sua manutenção. Outra circunstância que tornava a cidade atraente era o facto de fazer parte da paisagem a baía, ilustrada pelo pontuado das velas brancas dos barcos que faziam a travessia para a outra margem, transportando pessoas e mercadorias. Esta particularidade trazia-lhe o benefício de horizontes amplos, desafogados, que contribuíam enormemente para a atracção do conjunto.
Era a esta terra que chegava, ele, o imigrante, exilado voluntário; terra que escolheu para sobreviver e lutar, na esperança de colher os benefícios que resultassem do seu esforço, aquilo que a muitos era negado na sua Terra Natal. Mas não esqueceu o cantinho que deixou numa esquina da Europa, e onde volta, logo que lho permita o prémio ganho pelas actividades e energia despendidas nos seus afazeres, a minorar saudades de ver novamente os lugares que o viram nascer e criar, e que lhe sorriem, como convidando-o a sentar-se novamente à sombra do carvalho frondoso, a contemplar a paisagem que tinha levado gravada na alma quando dali se afastou.
Em tempos idos, Inhambane tinha sido um porto de mar para exportação dos produtos principais da sua agricultura - algodão, amendoim, copra e outros - transportados pêlos barcos costeiros para a Capital, onde eram transferidos para os barcos de longo curso. Em resultado desta actividade, uma linha de caminho de ferro com a extensão de apenas uns 80 quilómetros, transportava do interior os produtos para o porto de mar. A linha chegando à cidade, atravessava esta, correndo ao longo da avenida principal, do lado Sul, cerca de 3 metros afastada das casas, mas dificilmente se notava a sua existência por ser coberta pela relva de um tabuleiro, um pouco alteado, que também corria no mesmo sentido.
Em 1956 a linha tinha caído em desuso por falta de produtos a transportar.
A pequena comunidade que ali vivia e trabalhava era constituída, naquela época, por umas centenas de pessoas que, sem contar com os naturais, se dividiam em três grupos étnicos principais: europeus, indianos e muçulmanos, em perfeita harmonia de convívio e respeito mútuo.
Ali permaneci cerca de 20 anos, -1956/1976 - . É deste período que vou procurar registar os episódios que mais relevância tiveram no decurso daquele espaço de tempo em que vivi nessa encantadora pequena cidade , acontecimentos em que tomei parte, a que assisti, ou de que tive conhecimento.
Atingi uma idade que me faz sentir a urgência de escrever as minhas memórias, pela impossibilidade de repetição dos acontecimentos com o mesmo interesse dos que me fizeram sentir aquilo a que chamarei a pirâmide da minha vida, cujo vértice virá a ser inexoravelmente atingido, com toda a probabilidade de não se situar a muita distância no tempo. (Nasci em 1917).
A profunda nostalgia desses acontecimentos e lugares onde decorreram e por onde me ficou presa a alma, levou-me à decisão que tomei de partilhar essas memórias com os meus semelhantes e amigos queridos, cuja convivência contribuiu para fazer de mim um homem feliz, durante o espaço de tempo em que tiveram lugar, enquanto me é possível coordenar duas ideias. Toda esta cavalgada de recordações mantém-se fresca nos meus sentidos, pela intensidade com que foram vividos os factos narrados. *


* Prólogo
 















 

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