Morreu o Inspector Varatojo, que nunca quis fazer disso uma profissão
Homem de muitos ofícios e actividades, deixa o nome ligado à divulgação do policial em Portugal
Artur Francisco Varatojo, mais conhecido como
Inspector Varatojo, faleceu no sábado no hospital de Santa Cruz, em
Carnaxide (concelho de Oeiras).
Tinha 80 anos, feitos em Agosto passado.
O funeral realizou-se ontem à tarde para o Cemitério dos Prazeres, em Lisboa.A sua faceta mais conhecida, popularizada pela rádio, televisão e imprensa - só para o jornal A Capital escreveu ao longo de 17 anos uma rubrica intitulada O Crime Visto Por -, foi a de criminologista e divulgador do policial.
"Durante muito tempo pensei mesmo que ele era
inspector, tal a forma como dominava os assuntos" respeitantes à
criminologia e à técnica policial, disse ontem à Lusa o médico Gentil
Martins.
Nascido a 21 de Agosto de 1926, em Lisboa, Varatojo foi um
homem de muitas actividades e ocupações ao longo da vida, umas mais
conhecidas do que outras. Formou-se em Ciências Económicas e Financeiras
e, mais tarde, em direito, obtendo o curso superior de Medicina Legal.
Mas foi sucessivamente aferidor de contadores da antiga Companhia das Águas (actual EPAL), funcionário da Câmara Municipal de Lisboa, comerciante, produtor de rádio e de televisão, economista e publicitário.
É autor de mais de duas dezenas de livros de divulgação
policial, com destaque para ABC do Crime (seis volumes). Registou
também uma presença regular e duradoura na televisão, tendo apresentado
na RTP os programas ABC do Crime (sete anos) e Selecção Policial (oito
anos). Realizou ainda algumas incursões, porventura menos conhecidas,
pelo campo da banda desenhada, sendo nomeadamente argumentista de A Ala
dos Namorados (desenho de José Manuel Soares), publicada na revista
Cavaleiro Andante, em 1956.
"Há duas facetas de Artur Varatojo que
são importantes. Fica-se a dever-lhe a divulgação do policial, sobretudo
através do programa de rádio o Quinto Programa. Por outro lado, e
graças às antologias que coordenou, foi o responsável pela chamada de
atenção para as problemáticas de investigação criminal (balística,
impressões digitais, etc.)", afirma Luís Pessoa, coordenador da secção
Policiário do PÚBLICO.
Fã de Jack, "O Estripador"
Apesar da
sua ligação ao mundo policial, raramente participava nas tertúlias
policiárias, recorda Luís Pessoa, que evoca a paixão de Artur Varatojo
por Jack, "O Estripador", sobre o qual fez investigações e a quem
consagrou um livro.
Detective é profissão que nunca teve nem quis
ter. "Gostaria, sim, de investigar casos, mas polícia nunca, porque a
partir do momento em que descubro o criminoso passo a ter pena dele",
confessou em 1990 ao Diário de Lisboa.
Também nunca escreveu qualquer
romance policial, pelas razões que explicou na mesma ocasião: "Tenho
muita dificuldade em fazer isso porque li muito e livros muito bons.
Para escrever um romance teria que achar que ele era melhor do que os
que eu li."
Nota. Sob estas linhas estão oito livros, ou seja, uma colecção
completa de obras, coordenadas por Artur Varatojo, nas quais se
demonstra uma realidade portuguesa, em que, o crime, é « figura central »