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19/01/2024

CRÓNICAS DA COSTA DO SOL



 

 

 Autor: Correia de Morais

 Ano - 1969








 PERFIL DE UM ARTISTA
CORREIA DE MORAIS


Por: José d’Encarnação (Arqueólogo e Professor da Universidade de Coimbra)
"Pintor, jornalista, poeta, escritor e colunista político de exaltado patriotismo e terrível irreverência, não deve perguntar-se o que é Correia de Morais, por sempre ser aquilo que quer ser e constantemente nos surpreender pela espantosa versatilidade. Nascido lá para as faldas do Marão em fidalgo morgadio, e tendo estudado em Vila Real e no Porto, parecia destinado a um futuro de lavrador transmontano, quando a sua inquietude e inconformismo o levaram a abandonar tudo, para se lançar numa aventura que ainda prossegue e o marca indelevelmente.
Arribado a Lisboa, e sem preparação para a luta pela sobrevivência, atravessou tempos difíceis, até que um anúncio de acaso o levou à decoração para filmes, onde teve a sorte de colaborar com Leitão de Barros e com o grande mestre Manoel Lima, que logo o descobriram como artista nato. Freqüentou os mais importantes centros artísticos de Lisboa e trabalhou com os melhores cenógrafos da América Latina. Mas sempre indomável e inquieto, encontrado o seu destino isolou-se, e deu início à grande aventura das artes e das letras.
Realizou a primeira exposição nos salões da Aliance Française, e desde logo se tornou conhecido. Então, como que explodiu, e durante três anos pintou Portugal de norte a sul, expondo no Porto, Viana do Castelo, Coimbra, Guimarães, Evora, Beja e Santarém. Foi expor a Espanha, França, Itália e Inglaterra, e os seus quadros invadiram a Europa e transbordaram para a América do Norte, estando representado no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, nas principais galerias francesas e inglesas e em todas as grandes coleções de Portugal.
Regressado a Lisboa, criou a Galeria Artistas Reunidos, chamando a si todos os artistas desamparados da Grande Cidade, e dando-lhes companheiros ilustres e famosos, como Almada Negreiros, Teixeira Lopes, Besugo, Quintino Correia e tantos outros. E em breve a Artistas Reunidos ganhou fama e se transformou em tertúlia de artistas e intelectuais, atraindo a atenção da polícia política de Salazar, que viria a encerrá-la. Correia de Morais reagiu violentamente a tal prepotência e de um dia para outro surgiu como cronista social de espírito irreverente e cáustico, Publicou dois livros de crônicas impiedosas e conquistou o grande público. Mas para sempre regressar à pintura, pela necessidade de dar voz à sua alma transmontana e emprestar imagem à constante inquietação de espírito-sentimento.
Porque é incomum e diferente, Correia de Morais dificilmente caberá na estreiteza de uma ligeira anotação de perfil, já que como pintor recusou o tradicionalismo, fazendo-se mágico da espátula, pintando como só ele as suas maravilhosas árvores e forçando a natureza a um diálogo sentimento que se adivinha e quase se escuta, entretanto que, como escritor, nos manobra a seu talante, fazendo-nos rir ou chorar.
Artista e escritor versátil, temperamental, imprevisível e polêmico, Correia de Morais é um dos personagens da nossa galeria íntima de fabulosos, tendo-nos conquistado a amizade de que somos capazes e muita, muita admiração pelo seu talento."

CORREIA DE MORAIS, faleceu em 19/10/1989 na Inglaterra.

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